quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Gonçalves Dias – Canção do Exílio e Nesta Rua via A Magia da Poesia:


Canção o Exílio (Gonçalves Dias)
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.


Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
 

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
 

Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
 

Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
 
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Esse poema é
 um clássico. É composto todo em heptassílabos (ou redondilha maior) como a maioria de nossas cantigas de roda e canções de ninar
(muitas compostas por Villa Lobos, como a belíssima
 “Se esta rua fosse minha“). Dizem que essa é a métrica que mais se prende à memória…
Deve funcionar, pois realmente, eu não esqueço esse poema ou as cantigas de ninar da minha infância. A obra abre o livro “Primeiros Cantos “ e é um dos mais conhecidos poemas da língua portuguesa no Brasil, até mesmo porque
“Nossos bosques têm mais vida,/
Nossa vida, mais amores.” acabou no nosso hino nacional. Foi escrito em julho de 1843 em Coimbra (Portugal) e na wikipedia você pode saber mais sobre ele, inclusive com uma análise do poema.
Se quiser ver o texto em sua grafia original (bem interessante), basta passar umas páginas aqui no link do livro Primeiros Cantos no Google Books.
Aliás, o livro está todo disponível ali, pois toda a obra do autor é de dominío público atualmente

Eu queria te dizer uma porção de coisas,......Caio Fernando Abreu



Eu queria te dizer uma porção de coisas, de uma porção de noites, ou tardes, ou manhãs, não importa a cor, é, a cor, o tempo é só uma questão de cor não é? Pois isso não importa, eu queria era te dizer dessas vezes em que eu te deixava e depois saía sozinho, pensando numa porção de coisas que eu não ia te dizer, porque existem coisas terríveis que precisam ser ditas, não faça
essa cara de espanto, elas são realmente terríveis, eu me perguntava se você era capaz de ouvir, se você teria, não sei, disponibilidade suficiente para ouvir, sim, era preciso estar disponível para ouví-las, disponível em relação a quê?
Não sei, não me interrompa agora que estou quase conseguindo, disponível só, não é uma palavra bonita? Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou
"Flower Vendor on the Grand Boulevard, Paris"
by Victor Gabriel Gilbert (1847-1935)
apenas aquilo que eu queria ver em você, eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e, se era assim, até quando eu conseguiria ver em você
"Woman Wearing Gloves" 1885 by Berthe Morisot  (1841-1895)
todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver, entende?